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CVV,boa noite!

três teclas eram digitadas. do outro lado, um total desconhecido.por vezes, ela custava a dizer boa noite,mas a pessoa do outro lado costumava esperar com calma e em silencio,afinal aquele era um atendimento para pessoas desesperadas....e como tratar um desesperado senão for com paciência, atenção,carinho e muita dedicação?
não era a primeira vez que ela discava ou teclava aqueles 3 dígitos para salvar sua vida.
ela sabia que depois de libertar  uma montanha de palavras presas na garganta,quem sabe se sentisse melhor....por um lado talvez, mas por outro não,não gostava de incomodar ninguém, porque tinha certeza de já ter incomodado seus pais, já falecidos e muitas outras pessoas.
mas a idade andava lhe fazendo muito bem no sentido de quase sempre conseguir ficar em silencio, sozinha e ainda assim não tão mal do que quando era mais jovem.
várias vezes ela vacilou e desligou sem dizer  nada. várias vezes ela pensou em ligar para um daqueles desconhecidos salvadores de vidas via telefone,aqueles atendentes pacientes que ficam em vigília atendendo desesperados, muitos já com o "veneno" nas mãos achando que só iriam  se despedir deste mundo, mas depois viram que uma boa conversa pode fazer milagres.
falar com um desconhecido de seus mais profundos problemas não é para qualquer um, é arte pura, há de se ter desenvoltura e falar pelos cotovelos com toda sua força.
ela era daquelas bem cabeças duras e também dura na queda, embora tivesse problemas de saúde...dos nervos.sabia também que mútua ajuda é muito mais eficiente do que auto ajuda e encarava aqueles telefonemas como sessões de psicanálise ou de terapia junguiana!
houveram vezes que aqueles caros desconhecidos lhe fizeram muito bem, teve crises depressivas graves e estes heróis anônimos lhe mostraram o quão vital é a humanidade, a solidariedade, a dedicação.
com o tempo os desesperos vão ficando cada vez mais silenciosos e difíceis de serem resolvidos e as experiências desesperadas passadas assemelham-se a ilusões bobas.
deve estar fazendo mais de um ano que ela não pensava em ligar para o CVV. e... desta última vez ela preferiu sentar ao teclado e escrever para seu blog a respeito do grande serviço prestado por estes ilustres desconhecidos.






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